
Justiça testa novo sistema para acelerar pagamento de pensões alimentícias no Brasil
O sistema judiciário brasileiro está em processo de transformação com a adoção do Pix Pensão, uma ferramenta que promete revolucionar a forma como pensões alimentícias são pagas e fiscalizadas no país. A medida, parte do programa Justiça 4.0, desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), busca utilizar a tecnologia do Pix — já consolidada entre os brasileiros — para garantir mais agilidade, transparência e segurança no cumprimento das obrigações alimentares.
Mas, enquanto alguns comemoram o avanço digital, outros levantam questionamentos sobre desigualdades regionais, limitações tecnológicas e a real eficácia do sistema em um país com grande disparidade socioeconômica.
O que é o Pix Pensão e como ele funciona
Na prática, o Pix Pensão consiste na integração entre o sistema financeiro do Banco Central (PIX) e as varas de família da Justiça brasileira. Ao invés de depender de depósitos bancários ou ordens judiciais complexas, os tribunais poderão gerar chaves Pix diretamente vinculadas ao processo judicial, permitindo o envio e o controle imediato do pagamento.
O sistema também permite que juízes e servidores monitorem em tempo real os pagamentos, reduzindo burocracias e permitindo ações mais rápidas em caso de inadimplência.
“Estamos diante de um novo paradigma de execução de alimentos no país”, afirmou o ministro Luiz Fux, que participou da formulação do projeto no CNJ. “O Pix Pensão é mais que uma ferramenta: é uma garantia de sobrevivência para milhares de crianças brasileiras.”
Justiça mais rápida e eficaz: os números por trás da mudança
Segundo dados levantados pelo próprio CNJ, mais de 5,5 milhões de processos de pensão alimentícia tramitam hoje no Brasil. Desses, cerca de 25% enfrentam algum tipo de inadimplência ou atraso.
Um estudo interno da Corregedoria Nacional de Justiça, realizado em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), estima que com a digitalização dos pagamentos via Pix:
- O tempo médio de execução da dívida alimentar cairia de 90 dias para 15 dias;
- Haveria uma redução de até 40% no volume de processos paralisados por falta de pagamento;
- Cerca de R$ 8 bilhões anuais deixariam de ser judicializados com base apenas no ganho de eficiência.
Críticas e desafios do modelo
Apesar do entusiasmo dos tribunais mais avançados tecnologicamente, como São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul, outros estados apontam dificuldades na implementação plena do sistema.
A falta de acesso à internet, problemas de letramento digital e a ausência de contas bancárias formais ainda são obstáculos para muitos brasileiros, especialmente em regiões mais pobres.
Além disso, especialistas em Direito de Família alertam para a necessidade de regulamentação clara para evitar fraudes, pagamentos indevidos ou conflitos sobre valores pagos fora da Justiça.
“Não basta apenas digitalizar. É preciso garantir que todos os envolvidos tenham acesso, entendam o sistema e tenham seus direitos protegidos”, destacou a juíza Carla Araújo, da Associação Brasileira de Magistrados da Infância e Juventude.
Visão da sociedade: o que pensa a população?
Em uma pesquisa realizada em abril de 2025 pelo DataSenado, com 1.200 entrevistados em todo o país:
- 82% disseram apoiar a implantação do Pix Pensão em todo o Brasil;
- 69% acreditam que o sistema vai ajudar a reduzir a inadimplência;
- 21% temem que os pagamentos informais sejam usados para escapar da Justiça
Conclusão: avanço necessário, mas com cautela
O Pix Pensão surge como uma solução moderna para um problema antigo. Se bem estruturado, poderá significar uma grande vitória para a infância e juventude brasileira, especialmente nos casos mais vulneráveis, em que cada dia de atraso significa um prato vazio.
Contudo, como toda mudança profunda, exige preparo, conscientização, testes rigorosos e suporte social para que não se torne mais um mecanismo excludente.